Menu fechado

Palavra do expert: o violinista Itzhak Perlman e suas dicas para o estudo

leitura: 4 min
Itzhak Perlman com violino
Foto por Don Hunstein/Warner Classics

Uma valiosa fonte de ideias sobre a prática musical costuma ser quem está no topo da expertise e tem larga experiência. Esse post, que tem a intenção de ser o primeiro de uma série, pretende apresentar a visão de músicos de alto nível sobre o aprendizado. Para iniciar, trago aqui algumas dicas para o estudo compartilhadas por Itzhak Perlman, violinista israelense-americano de reputação mundial que é uma das maiores referências da música clássica no século XX – XXI. Para quem nunca o ouviu, aqui vai:

Há disponível na internet diferentes entrevistas ou masterclasses nas quais Perlman fala sobre como estudar. As principais referências usadas aqui são uma entrevista na Rádio Classic FM e alguns vídeos no  Youtube, inclusive no próprio canal dele (link 1, link 2 e link 3). Dessas diferentes falas, extraí aqui 5 ideias recorrentes:

1) Estudo lento e paciência

Perlman repete mais de uma vez a máxima: se você aprende devagar, você esquece devagar. Se você aprende rápido, esquece rápido

Tocar em andamento lento é uma das estratégias de estudo mais comuns e tem o objetivo de consolidar a coordenação e a compreensão musical em uma situação controlada de velocidade. Outros estágios do aprendizado de uma música  podem exigir outros tipos de estratégias, como subir o andamento progressivamente ou alternar os andamentos lento e rápido, para testar os movimentos envolvidos na velocidade final, mas apenas quando as primeiras etapas já estão consolidadas. 

Perlman ainda traz um conselho muito interessante de quem certamente já passou por isso muitas vezes: se na segunda-feira algo sai ótimo e na terça ficou ruim, não desista. Tenha paciência e continue o trabalho lento e cuidadoso! Leva tempo para o cérebro absorver o que está sendo estudado.

2) Repetição e escuta 

Não repita um trecho sem ouvir com atenção. Se você repete algo errado 20 vezes sem corrigir, está estudando o erro e tornando-o permanente. 

A repetição como ferramenta no estudo individual tem a intenção de fixar as ideias, memorizar e automatizar os movimentos. Se você repete algo muitas vezes, provavelmente vai gravar, estando certo ou errado.  Logo, muito cuidado ao usar este recurso indiscriminadamente. Repetir não vai resolver as dificuldades. Antes de repetir, investigue onde está a dificuldade, entenda o problema e procure soluções adequadas.

Perlman chama atenção também para ouvir atentamente como está tocando ao repetir. Às vezes tentamos resolver as coisas apenas com os dedos e nem sempre ouvimos o resultado sonoro. Por consequência, pode-se desenvolver maus hábitos sem perceber. 

3) Metas

Tenha um objetivo claro: por que está praticando? O que está tentando melhorar ou resolver? Sem essa clareza mental e metas bem definidas o estudo será pouco proveitoso. 

O estabelecimento de metas é uma das características fundamentais para a excelência musical, como afirmam os pesquisadores Roger Chaffin e Anthony Lemieux neste livro. Ter metas no estudo promove orientação, motivação e facilita a concentração. Estabelecer objetivos específicos é mais produtivo do que simplesmente pensar em fazer “o seu melhor”. Este é um dos pontos essenciais no planejamento do seu estudo.

4) Intervalos e duração da sessão de estudo

Divida o estudo em blocos de 20 minutos, seguido de intervalos de 10 minutos. Perlman recomenda isso para evitar o cansaço físico e mental. 

Fazer intervalos é fundamental para recuperar a concentração e promover o descanso físico. O tempo, naturalmente, pode variar de acordo com a demanda da tarefa, características do instrumento, a disposição e a experiência pessoal.

5) Tempo de estudo por dia

Com relação a esse ponto, ele é bem direto: não estude mais do que 4 – 5 horas por dia. O corpo não vai absorver e você pode ainda pode desenvolver lesões. E tem mais, esse tempo pode ser inútil se você não estudar com a disposição mental correta. Melhor praticar 2h com sua mente atenta do que 8h sem focoPerlman recomenda, portanto, evitar o que ele chama de over practicing. Isso seria o ato de estudar horas em excesso, em um nível no qual o corpo e a mente já não podem absorver, prática esta que seria prejudicial ao aprendizado. 

Essa é uma sugestão da qual outros músicos compartilham, como Ivan Galamian (um dos professores que Perlman teve – ver Principles of Violin Playing and Teaching, 1962), os pianistas Karl Leimer e Walter Gieseking (Piano Technique, 1972), ou o violonista Ricardo Iznaola (On Practicing, 2000). 

Tempo de estudo é um tópico que gera discussão, desde os mais iniciantes aos avançados. Não há uma verdade absoluta: o tempo dedicado ao estudo varia de instrumento para instrumento, depende de características pessoais, nível do músico e dos objetivos. O que há em comum: estudar tempo demais, sem foco, sem estratégias adequadas e sem intervalos de descanso é uma péssima ideia.

A visão que Itzhak Perlman compartilha aqui, além de ser fruto de uma vasta experiência prática, mostra conexão com as ideias de outros especialistas e também pesquisadores da performance musical. Ainda assim, enfatizo: reflita sobre essas abordagens e veja como elas podem se encaixar nos seus objetivos e no seu nível de habilidade. Converse também com seu professor, com colegas e pesquise o assunto em outras fontes (trabalhos acadêmicos, livros, masterclasses, etc).  

Acredito que esses conselhos podem servir para muitos musicistas, independente do seu instrumento. Para a turma do violino, recomendo: confira o canal do Youtube do próprio Perlman onde há várias dicas para o instrumento.

Quer saber como seu estudo pode render mais?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *