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Aprenda a organizar e planejar o estudo musical

leitura: 6 min
Livros de música espalhados

Para extrair mais do estudo individual não se deve simplesmente pensar em estudar mais tempo ou repetir mais vezes e sim otimizar a prática. Um dos primeiros passos para fazer isso é planejando e organizando a rotina de estudo.

Vantagens de organizar o estudo:

Ao elaborar um plano de estudo é possível:

  • Ter uma visão geral do que está estudando
  • Aproveitar melhor o tempo disponível para praticar
  • Direcionar o aprendizado ao que deseja e/ou precisa desenvolver
  • Equilibrar diferentes habilidades e conhecimentos.

Onde encontrar informações sobre isso?

Aos estudantes, é sempre bom lembrar que o primeiro passo é conversar com seu professor sobre como pode organizar seu estudo. Um bom professor certamente saberá orientá-lo em alguns desses aspectos.

À parte dessa recomendação, há livros escritos por experientes músicos e professores que trazem recomendações sobre a prática individual. Dentre vários, aqui estão alguns exemplos:

Outras fontes de informações sobre o estudo individual são trabalhos acadêmicos/científicos. Nas últimas décadas pesquisadores tem investigado como músicos estudam e desenvolvem suas habilidades, utilizando entrevistas, pesquisas experimentais e estudos de caso. Estes trabalhos trazem reflexões importantes sobre o estudo individual, com informações que podem ser aproveitadas por estudantes e professores de música. Alguns desses trabalhos evidenciam uma relação positiva entre o estudo planejado e níveis avançados de habilidade em música.

Um exemplo é a pesquisa realizada por Susan Hallam, que investigou o  desenvolvimento da capacidade metacognitiva e o uso de estratégias no preparo para a performance de músicos iniciantes e profissionais avançados. Um dos pontos que a pesquisadora observou nos resultados era que os músicos de elevada expertise abordavam o estudo de maneira mais estruturada, incluindo planejamento estratégico, autoavaliação, identificação e resolução de problemas. Isso nos dá uma indicação de que talvez o estudo planejado seja um dos elementos que possibilite o desenvolvimento mais eficaz das habilidades em música.

É importante dizer que nessas pesquisas (e na vida real) sempre há variação entre os indivíduos, mesmo entre os mais avançados. As preferências pessoais e as particularidades de cada instrumento influenciam o modo de se estudar. Além disso, de acordo com o nível de experiência de cada um, as exigências e possibilidades são diferentes.

Um estudante mais iniciante ainda deve contar com ajuda do professor para orientar seu desenvolvimento e talvez precise de um direcionamento mais detalhado. Por outro lado, um músico mais avançado conhece melhor seus limites e capacidades o que lhe dá maior consciência do que precisa para desenvolver seu trabalho sem exigir um plano tão minucioso.

Um exemplo interessante é o violonista David Russell, um dos grandes nomes do violão clássico atual. Em seu site ele compartilhou uma folha com anotações sobre seu estudo a qual utiliza para ter uma visão geral do repertório, conferir o que precisa de mais atenção, checar qual música está melhor, etc. Essa é uma forma simples de organização que o ajuda na atribulada rotina de concertista internacional.

Assim como fez o violonista David Russell, a ideia é que cada um encontre a dose de planejamento que atenda as suas necessidades e que seja adequada à própria rotina.

“Pequena” lista de repertório do David Russell e suas anotações.

Então como fazer?

Para aqueles que não sabem por onde começar, os tópicos abaixo são possíveis pontos de partida:

1) Estabeleça metas:

Se não tem objetivos claros, para onde vai? Procure definir o que vai fazer antes de estudar. Pode também pensar em metas de curto, médio e longo prazo.

Por exemplo:

  • O que deseja desenvolver na próxima sessão de estudos? Ler 1ª página do estudo X.
  • O que pretende alcançar essa semana? Resolver a digitação da mão esquerda na música Y.
  • O que espera ter feito até o fim do semestre? Aprender músicas X, Y e Z.
Alice sem metas claras…

2) Estude com frequência e regularidade

Um dos consensos não só entre músicos, mas também na pesquisa científica é que a repetição e prática distribuída são essenciais no aprendizado. Por exemplo, se está estudando uma música nova, praticar várias vezes e de forma distribuída ao longo da semana será mais eficaz no aprendizado e retenção a longo prazo (Ver: efeito do espaçamento ou da prática espaçada). Distribua o estudo de suas músicas ao longo da semana, de modo que estude várias vezes cada música, em dias diferentes, e em sessões de estudo curtas (menores que 1h).

Em outras palavras: melhor estudar por 1h todos os dias do que 7h somente aos domingos.

3) Planeje o que e como vai estudar

Escolher diariamente de maneira completamente aleatória o que vai fazer na sessão de estudo não é uma boa abordagem. Repetir um trecho “até sair”, tampouco é uma boa estratégia.
Tente sempre estabelecer previamente o que pretende estudar e como vai fazer. No dia anterior ou mesmo antes de começar a estudar, pergunte a si mesmo “O que pretendo trabalhar aqui e como farei?”. Por Exemplo:

  • O QUÊ? Aumentar o andamento em que toco a música X
  • COMO? a) Tocar com metrônomo progressivamente de 60 a 80; b) Alternar estudo lento e rápido, etc.

4) Divida o estudo de modo a trabalhar diferentes aspectos

O estudo musical envolve vários tipos de atividades. Por esse motivo, vários autores (Carl Flesch, Ivan Galamian, Gerald Klickstein, por exemplo) recomendam organizar o estudo de modo a trabalhar diferentes elementos da prática musical.

Uma sugestão interessante é a de Gerald Klickstein, propõe que o estudo deve envolver 5 áreas:

  1. Repertório novo
  2. Repertório em desenvolvimento
  3. Performance
  4. Técnica
  5. Musicalidade

Ao incluir essas diferentes áreas na rotina diária é possível equilibrar o desenvolvimento musical. Desse modo, evita que só estude repertório sem trabalhar técnica (ou vice-versa), ou só fique lendo músicas novas sem preparar nenhuma para performance. (Leia mais sobre no blog do autor, Musician’s Way).

5) Faça sessões de estudo curtas e com intervalos

Pequenos blocos de estudo com intervalos entre eles tem vantagens físicas e cognitivas.
Para que o estudo seja proveitoso, a concentração é fundamental. Esta tem um certo limite que varia entre as pessoas e de acordo com a atividade realizada. Em geral, recomenda-se sessões curtas (menores que 1h) para manter a atenção no trabalho. Fazer intervalos no estudo também tem a função de descansar a musculatura envolvida na atividade e pode incluir alongamentos e exercícios de relaxamento.

Resumindo:

  • Estabeleça metas
  • Estude com frequência e regularidade
  • Planeje o que e como vai estudar
  • Divida o estudo de modo a trabalhar diferentes aspectos
  • Faça sessões de estudo curtas e com intervalos

Encarar o estudo de modo objetivo ajuda a prevenir problemas, permite reconhecê-los e encontrar possíveis soluções. Ao praticar dessa forma, evita-se que o estudo seja baseado exclusivamente na tentativa e erro. 

Para encerrar, um ponto importante: o plano de estudos não é uma regra fixa que você deve seguir custe o que custar. O planejamento guia a rotina de estudos, mas sempre deve haver certa flexibilidade, afinal, praticar deve ser também uma atividade prazerosa e criativa.

Se o que planejou deu errado, não se frustre! Vários elementos influenciam a rotina de estudos e aos poucos você vai aprendendo o que funciona para si. Por isso é importante revisar e refletir sobre o que estudou, para redirecionar seu plano se for o caso. Este já é assunto para outro post ;).

Quer saber como seu estudo pode render mais?

4 Comentários

  1. Augusto

    Adorei as dicas. Tenho 60 anos e há 4 meses resolvi estudar violão clássico. Agora cheguei num ponto em que estou tendo dificuldades em evoluir nos estudos, as aulas on-line (moro em uma zona rural) já não têm surtido efeito e a falta de concentração tem sido o grande desafio.
    Vou tentar me planejar melhor para os estudos, obrigado

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