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Como tornar o estudo de técnica mais produtivo

leitura: 5 min
Metrônomo analógico

O termo técnica, dentro da prática musical, pode se referir a várias coisas: podem ser procedimentos (como spiccato no violino, tremolo no violão, frullato na flauta) ou ainda a perícia em realizar determinada tarefa. Apesar disso, quando se fala em estudo de técnica, grande parte dos músicos já sabe do que se trata: exercícios de escalas, arpejos, articulação, afinação, etc. 

Sendo assim, para não entrar em maiores discussões, podemos entender essa parte do estudo como uma série de exercícios que visam promover o aprendizado de habilidades novas, além de apurar o controle e coordenação dos movimentos que serão utilizados na execução das músicas.

Aparentemente, para alguns (ou muitos…) o estudo de técnica pura, ou seja, o trabalho exclusivo desses elementos desvinculados de qualquer música, não é uma atividade tão gratificante por si só e acaba exigindo maior disciplina para manter na rotina.

Muitos músicos já começam o dia pelo estudo técnico e alguns o encaram como um mero aquecimento. Dessa forma já se livram dessa “obrigação” e abrem caminho para estudar as músicas que tanto querem tocar…

Batman estapeando Robin
Cadê as escalas, Robin??

De fato, fazer diariamente esses exercícios talvez exija um pouco mais da disposição e disciplina. Se a pessoa os estuda apenas porque “tem que fazer”, a tendência é que se tornem chatos, maçantes ou uma mera “ginástica” para os dedos.

Para que esse momento de aprendizado seja melhor consolidado, e o que foi praticado não se perca, é importante que a mente e os ouvidos estejam participando ativamente no estudo. Se todo dia os exercícios são iguais e a abordagem semelhante, a atenção simplesmente entra no piloto automático.

Como explica Daniel Levitin no livro A Mente Organizada, do ponto de vista evolutivo, o cérebro humano se desenvolveu para não gastar energia em algo que não exige atenção, principalmente em uma tarefa repetitiva, rotineira ou irrelevante. Graças a esse mecanismo, o qual os psicólogos cognitivos chamam de filtro de atenção, é possível, por exemplo, dirigir um carro sem a percepção consciente de todos os detalhes. E acredite, é igualmente possível praticar seu instrumento sem se dar conta do que está fazendo.

Sim, a prática e a repetição dos exercícios são fundamentais para desenvolver e apurar o controle motor, tornando fluente uma série de movimentos envolvidos no tocar. Para os mais iniciantes, ser capaz de tocar os exercícios, com boa coordenação e controle do som já é um por si só um desafio. Mas, uma vez vencida essa etapa, é importante revisar a maneira de estudá-los, do contrário vão se tornar apenas repetição mecânica, sem foco e desestimulantes.

E como fazer para manter a atenção e o interesse ao praticar esses exercícios?

Aqui vão dois pontos importantes que podem ajudar:

1. Mude a maneira como encara o estudo de técnica

Tenha em mente que, além de sedimentar a coordenação motora, a prática dos exercícios deve ser um momento de:

  • Observar (ex: postura, coordenação dos movimentos, volume, timbre)
  • Experimentar (ex: ritmos, dinâmicas, timbres, articulações, etc)
  • Apurar detalhes (ex: equilíbrio do toque, afinação, precisão rítmica)
  • Conhecer e expandir limites (coordenação, reflexo, gama dinâmica, velocidade)

Apesar de muitos exercícios aparentemente não terem relação com o repertório é importante tocá-los sempre com uma intenção musical. Não toque sem pensar em fraseado, articulação, equilíbrio do som, dinâmica, etc. Se conseguir fazer nas isso em suas escalas, certamente poderá aplicar no repertório.

2. Crie variedade e diversifique o estudo

Para isso, pode partir do seguinte:

  • Alterne os exercícios: não faça sempre os mesmos, uma rotatividade é sempre interessante. Escolha diferentes exercícios a cada semana, por exemplo.
  • Procure novos exercícios: revise os métodos para o seu instrumento e também de outros instrumentos, pesquise ideias em masterclasses de músicos consagrados (no youtube é possível encontrar algumas).
  • Modifique os exercícios: cansou daquelas escalas em tons maiores ou menores? Há diversos outros tipos de escalas para explorar.
  • Crie exercícios baseados no que deseja/precisa trabalhar: o repertório que está estudando tem exigências bem específicas? Crie um exercício a partir disso.

Se faltam ideias para criar essa variedade, segue aqui alguns exemplos da literatura musical:

  • Variações de ritmo e articulação: no livro Principles of Violin Playing & Teaching (1962), o grande violinista e professor Ivan Galamian propõe diversas variações para os exercícios de escalas. Sugere ainda que, ao resolver todas aquelas situações, o estudante deve construir novos problemas para si e buscar outras combinações.
padrões rítmicos para estudar ao violino
Alguns padrões rítmicos que Galamian propõe para o estudo de escalas no violino
  • Mudança de harmonia: Para os que gostam de explorar acordes e tonalidades, pode-se alterar a harmonia de algum exercício. Por exemplo, Joe Diorio rearmonizou o Estudo 1 para violão de Heitor Villa-Lobos. (Esse estudo está no livro Pumping Nylon 2ª edição, de Scott Tennant).
Primeiro compasso do Estudo nº 1 para violão de Heitor Villa-Lobos
Início do Estudo nº 1 para violão de Heitor Villa-Lobos
início do estudo de arpejos baseado no Estudo 1 de Villa-Lobos
Rearmonização de Joe Diorio, mantendo o mesmo padrão de arpejo
  • Elaboração de exercícios: na série de livros Guitar Masterclass, o importante pedagogo do violão Abel Carlevaro traz diversas soluções para situações do repertório tradicional, muitas vezes propondo exercícios baseados nos elementos que as músicas oferecem.
Início do Estudo Op. 35 nº 13 de Fernando Sor
Início do Estudo Op. 35 nº 13 de Fernando Sor
 
Exercícios elaborados por Carlevaro baseados no estudo de Sor
Exercícios elaborados por Carlevaro baseados no estudo de Sor
 

Resumindo:

Mude a maneira como realiza o estudo de técnica. Ele não é apenas um aquecimento ou ginástica para os dedos! Encare esse momento como um laboratório de criação e experimentação, para explorar elementos musicais, entender os movimentos envolvidos no tocar, identificar dificuldades e facilidades pessoais.

Além disso, crie interesse e variedade: mude articulação, ritmo, timbre, dinâmica; altere padrões rítmicos e acentuações de escalas; troque a harmonia dos exercícios; ou mesmo crie exercícios baseado nas dificuldades que encontra no seu repertório. Tudo isso pode trazer aquela dose de novidade e deixar essa parte do estudo mais rica e produtiva.

Quer saber como seu estudo pode render mais?

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