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Palavra do expert: dicas de estudo do violonista David Russell

leitura: 4 min
David Russell com violão

Este post faz parte de uma série iniciada aqui no blog que pretende trazer dicas de estudo segundo a visão de músicos de alto nível. A referência escolhida para esse texto é o violonista escocês David Russell. Reconhecido internacionalmente pela sua musicalidade e maestria no instrumento, sua carreira inclui desde os principais prêmios internacionais de violão, diversos CDs, arranjos publicados, condecorações, e até um Grammy (2005) pelo seu CD Aire Latino.

As ideias que compartilho aqui tem basicamente duas fontes:

  • livro de Antonio de Contreras (165 Consejos de David Russell), baseado em uma série de masterclasses que David Russell ofereceu entre 1992 e 1998 em um curso anual em Sevilla;
  • Ideias apresentadas em masterclasses e entrevistas disponíveis no Youtube. Por exemplo: link 1, link 2, link 3.

Selecionei algumas citações do livro que tinham relação com o assunto e que também apareciam de alguma maneira nas entrevistas.

1) Tempo de estudo

Uma recomendação sobre isso é: “Não estudar por mais que 50 minutos seguidos. Mudar de atividade e rapidamente voltar a estudar.

David fala em entrevista que, para ele, 45 minutos é um limite. Quando chega esse momento, faz um pequeno intervalo, toma uma água, descansa uns 10 minutos e depois retoma o estudo. O tempo exato não importa tanto, pode ser menos, principalmente para que está iniciando. O importante é cada um tentar perceber seu próprio limite de atenção. Mesmo que a pessoa tenha uma grande capacidade de foco e concentração, em algum momento a mente vai se distrair. Não insista em estudar sem foco!

Para estudar com mais foco David sugere decidir antes o que vai fazer na sua sessão de estudo. Por exemplo: se o objetivo for aprender uma peça nova, não tente sair tocando do início ao fim. Ponha uma meta, algo como: “aprender a música até o compasso X”. Feito isso, comece e se concentre para estudar com atenção até lá. Há outro post aqui do blog com ideias para ajudar a se concentrar no estudo.

2) Planejamento 

David sempre comenta nas masterclasses sobre a importância de manter uma rotina de estudo de exercícios. E isso não significa tocar coisas complexas e difíceis, mas praticar os movimentos mais básicos da técnica no instrumento: os toques de mão direita,  pequenas escalas, arpejos com corda solta, ligados, etc. Estas seriam seriam as unidades básicas da fundação onde será construído todo o resto.

Além disso sugere usar algum tipo de lista para organizar o seu repertório. Isso ajuda a acompanhar o desenvolvimento das músicas novas que está estudando, as que já estão bem trabalhadas, além do repertório antigo para revisar. Veja no post sobre planejamento de estudo uma lista de repertório que David compartilhou em seu site e outras ideias sobre o assunto.

3) Técnica e resolução de dificuldades

No livro há um tópico interessante sobre isso:
“Aprendemos a superar dificuldades específicas em estudos específicos, e logo não conseguimos os mesmos resultados em outros contextos. É necessário aprender a desmembrar as dificuldades em seus elementos técnicos, compreendê-los e aplicar–lhes os conhecimentos específicos lá assimilados.”

O que ele quer dizer aqui? Mesmo que você estude diversos exercícios de arpejo, sempre vai se deparar com situação nova no repertório, onde de repente, todo aquele seu estudo parece não ter efeito. Uma forma de lidar com isso é desmembrar essa situação complexa em partes mais simples, até compreender quais elementos estão envolvidos, estudá-los e depois retomar ao contexto original.

4) Lidando com erros

Uma ideia sobre os erros:
“Podemos cometer um erro num concerto, mas temos que saber a origem do erro. Caso contrário, adquirimos um mau hábito esperar um acerto fortuito no concerto ante uma dificuldade que não resolvemos durante o estudo.”

Os erros podem ocorrer por diversos motivos. Mas os que acontecem com frequência devem ser encarados como um aviso: há algo que precisa ser resolvido aqui! Se a situação não está resolvida na sala de estudo, não há milagres: no concerto provavelmente não vai sair…

5) Memorização

Há duas sugestões interessantes sobre memorização: a primeira é uma forma de equilibrar a memorização da peça completa, iniciando o estudo de trechos que recebem menos atenção.

“Técnica para memorizar: começar do final da peça e ir até o início. Parece um pouco rebuscado e trivial, mas o que se almeja com isso é inverter a atitude normal do intérprete: sempre começamos no que nos é mais familiar e seguimos para o que conhecemos recentemente e está menos seguro. Ao memorizar do final até o principio, vamos tocando do menos conhecido até o mais conhecido e, com isso, ganhamos segurança.”

A outra sugestão é usar pontos de referência na música para poder se encontrar em caso de alguma falha de memória. 

“Talvez a maior causa de preocupação e nervosismo não seja um pequeno erro, mas que tenhamos um “branco”. É preciso praticar a memória formal ou estrutural e trabalhar pontos de referência para saltarmos nos casos de urgência.”

Um importante lembrete: antes de sair copiando qualquer receita, reflita se essas ideias fazem sentido para o seu nível no instrumento e sua realidade estudo, converse com professores, colegas, consulte outras fontes. Essa série de posts não têm a intenção de prescrever nada, mas de mostrar um ponto de vista e provocar reflexões sobre a maneira de estudar. Aos violonistas, não deixem de assistir as masterclasses que tem disponível no youtube!

Quer saber como seu estudo pode render mais?

2 Comentários

  1. Antonio Carlos Prol Medeiros

    Olá Leandro. Muito boa sua iniciativa em escrever sobre a psicologia envolvida nos estudos, na rotina de estudos e na memorização das músicas. Muito bacana mesmo. Mas alguns links não estão funcionando. Você sabia disso? Eu cheguei no seu site porque estou tentando planilhar minha rotina de estudos e não encontrei ainda um caminho melhor do que os meus rabiscos. Os meus rabiscos eu entendo mas chega uma hora que tem tanto rabisco que não consigo mais entender onde parei da última vez que estudei. Mas vamos em frente. Vou continuar lendo seu blog. Um grande abraço.

    • Leandro Quintério

      Oi Antonio! Obrigado pelo comentário. Olha, testei os links aqui dos últimos posts e parecem estar funcionando. Vc saberia me dizer qual? Sobre seu estudo, que ótimo que está procurando se organizar. Tente encontrar nessas referências um formato que seja simples e que funcione na sua rotina. Algo que pode ajudar a não se perder é sempre fazer uma revisão periódica do seu plano (semanal, quinzenal…). Abraço!

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